"ENTRE NÓS E AS PALAVRAS,
O NOSSO DEVER DE FALAR"
Mário Cesariny, in:Pena Capital
Domingo, 25 de Julho de 2004
O amigo Paredes - 1925 - 2004
Foi com a voz de Fernando Alves, que me compenetrei na partida do Paredes.
A minha ligação a Coimbra afina-me pelo tom da Guitarra desta nobre cidade.
Carlos Paredes deixa o seu som. Não é o som de Coimbra, mas Coimbra com o som de Paredes numa ligação umbilical. Abracei-o há muito. As minhas viagens tinham, normalmente, a sua companhia.
Já tudo foi dito, porque nestas alturas despeja-se tudo o que estava guardado à espera da partida.
E, como não tenho palavras para somar às já ditas (quem sou eu?), acentuarei aqui as de Rui Vieira Nery, que, como ex Secretário de Estado, pesam mais forte, e que me enchem de raiva, pelo quanto eu as sinto em mim.
"... Ao relembrar tudo isto, poucas horas depois de saber da sua morte, vem-me uma enorme sensação de vergonha como português face a esta indignidade permanente da maneira como década após década, regime após regime, este país agiu para com um dos maiores criadores culturais do séc. XX. Vergonha perante as dificuldades que passou, as perseguições que sofreu, os estímulos que não teve, as oportunidades que lhe foram negadas, o esquecimento a que foi abandonado, a gratidão que não encontrou. Vergonha perante a nobreza e a generosidade com que apesar de tudo continuou sempre a dar-nos integralmente com a mesma entrega, com a mesma autenticidade, com a mesma paixão, com a mesma doçura. Era um príncipe que não soubemos merecer...."