Foi em agosto. Eu estava a trabalhar em Faro. Uma bela Quarta feira, depois de jantar, regressava à pensão Samé, quando começo a sentir uma forte indisposição. As dores abdominais e as convulsões eram tão fortes que nunca antes assim tinha sentido.
Os vómitos e a diarreia eram constantes que fui obrigado a chamar um táxi e recorrer às urgências do Hospital.
A sala de entrada das urgências é espaçosa, com um grande balcão corrido, num dos lados, onde se encontram os serviços de atendimento, e do outro, vários bancos são dispostos como se de uma plateia se tratasse, virada para a TV.
Depois da identificação e do pagamento da taxa de mil escudos, ali me sento à espera.
Mas eis que sou obrigado a recorrer à “casa de banho”. Estava desocupada. Sento-me na sanita, e com a mão seguro a porta, que, por razões óbvias, não tem fechadura. Pouco a pouco os meus olhos filmam o local. O chão está cheio de bolas de algodão sujo de sangue ou mercúrio. Na parede lateral, o tambor do papel higiénico.
Entro em pânico. O tambor está vazio!
- Como é que vou sair desta?
O tempo passa e aparece alguém para urinar.
- Ó amigo, é capaz de me pedir aí dentro papel higiénico?
O homem olhou discretamente e lá pensou que era para os “apanhados” ou que eu era maluco, apertou as calças, saiu e fez-se silêncio.
Vai passando o tempo e uma feliz ideia me ocorre. O telemóvel!
Agarro no recibo da taxa e procuro na direcção, o nº de telefone do Hospital. Não tem.
Ligo para o 211180000. Peço o nº de telefone do Hospital, que logo marco.
Do outro lado:
- O nº que marcou não se encontra atribuído.
Então ligo para o 112. Explico a situação e dão-me o nº dos Bombeiros , que esses deveriam ter o nº do Hospital.
Assim procedo e lá me atende a telefonista da recepção do Hospital.
Expliquei a minha situação – sentado na sanita há cerca de 20 minutos, e que não existia papel higiénico!
- Mas onde é que eu agora vou arranjar isso? Os serviços de higiene estão fechados a esta hora (22.30). Mas eu vou tratar disso.
Passaram mais 15 minutos e nada. Volto a telefonar.
E diz-me a telefonista:
- Então o segurança não foi aí?! Eu vou voltar a telefonar-lhe.
Mais um quarto de hora, e eis que, de repente, me começam a empurrar a porta bruscamente.
- Ei amigo! Está ocupado! – digo eu.
- Mas é para lhe abrir a porta! Disseram-me que estava aqui alguém trancado.
- Estou aqui trancado mas é por falta de papel higiénico.
- Mas onde é que eu agora o vou arranjar? Os serviços de higiene estão fechados!
Lá foi embora e, passado u m pouco, aparece-me com um grande rolo, daqueles usados nas máquinas para limpar as mãos.
- Olhe, desenrasque-se! É o que consegui.
E lá me desenrasquei.
Voltei para a “plateia”, rindo-me interiormente pela situação. E assim, o problema que ali me tinha trazido estava a passar. Pedi à empregada de serviço para anular o meu pedido, uma vez que já tinha passado cerca de hora e meia e me sentia melhor.
Que não era possível reaver os mil escudos, a não ser que fosse no dia seguinte aos serviços centrais.
Tenho tempo para pedir o livro de reclamações. Dão-me uma folha e lá relatei o que vos disse atrás.
Passados alguns minutos, fui chamado pelos altifalantes. Era um médico espanhol – José António Maestro. Fui, efectivamente, bem atendido. A injecção que levei já não teria sido necessária, possivelmente.
Mas valeu a pena. Fartei-me de rir e ainda hoje acho piada.