"ENTRE NÓS E AS PALAVRAS,
O NOSSO DEVER DE FALAR"
Mário Cesariny, in:Pena Capital
Por razões económicas fui forçado a mudar de instalações, a fim de poder salvar a minha actividade, já que apoios ou avales são coisas que não chegam aqui.
A mudança de instalações, pela natureza da minha actividade demora bastante tempo. Desde Fevereiro que me encontro a fazer viagens diárias transportando todos os materiais.
Ontem de manhã, carregando numa viatura materiais pertencentes a uma obra do sec XVIII, que estamos restaurando e pertencente ao Palácio de Queluz, o meu empregado, na altura de serviço foi mandado parar por uma brigada fiscal acompanhada da GNR.
O Senhor fiscal das Finanças de Coimbra, Manuel Lopes Cardoso, lá entendeu que andávamos na candonga, a vender mercadoria no mercado paralelo. Não entendeu a razão que o meu empregado lhe deu e vá de passar uma multa de 100 mil escudos, apreendendo a “mercadoria” e a viatura.
Isto é de bradar aos céus! Acaso têm ideia, os senhores do Fisco, de quanto custa, a uma pequena empresa ganhar 100 mil escudos?
Numa altura em que o Governo deveria ser compreensivo ( neste caso não havia qualquer fuga ao fisco - só dessa obra já foram entregues cerca de 1.500.000$00 de IVA inseridos em serviço prestado, além de mais de mil contos para a Seg. Social, e mais de 5 mil contos em vencimentos - que geram, além de IRS, outros impostos indirectos), o que vemos é uma fiscalização irracional, semelhante a lobos esfaimados que descem repentinamente à “campina - estrada” somente com o intuito de sacar. Ainda se nos sacassem tipo Robin dos Bosques (para dar aos pobres), mas sacar e depois esbanjar quer em Expos, quer em avales incontroláveis!... A única vontade é simplesmente parar.
Hoje, com todo o sistema que nos impõem, totalmente irreal (Isto é Europa, mas só para alguns, o resto é só no papel) a vontade é ir na onda e deixar que o País se estampe de vez. Será que os nossos políticos ainda não viram para onde nos estão a conduzir? E vós, detentores do poder paralelo, senhores da Comunicação Social, não vêm que estamos a viver num País totalmente irreal? Porque se calam?
Hoje o Dr. J. Salgueiro dizia que era tempo de os políticos verificarem que para além dos direitos formais, o povo português necessita é de direitos reais. E é verdade. Na realidade nós estamos na miséria. Porque vivemos das teorias Europeias, que nos tentam impingir formas, dogmas que não têm nada a ver com este País.
Voltando à multa.
Porque é que o fisco só se importa com quem tem que mostrar esforço físico? E então, meus senhores, aqueles que escrevem, e levam a sua mercadoria ( umas folhas escritas) numa pasta, porque não são multados? E os que cantam e levam o seu instrumento consigo, não transportam a sua mercadoria? E os que tocam violino, ou flauta, não estão transportando a sua mercadoria?
Porquê só ao desgraçado que para ganhar cem contos tem que passar um mês e meio a trabalhar se lhe saca sem dó nem piedade ?
Voltando à multa.
É claro que não tinha os cem contos. Mas preciso da viatura. Tive que pedir a amigos a verba para poder recuperar os documentos. E depois queixam-se que o País começa a Ter casos de terrorismo, e casos de criminalidade nunca vistos! A maior criminalidade é o Governo que a incita, que faz de todos nós uns revoltados propondo-nos multas irreais, que não estão adaptadas à nossa economia. Nós não somos Alemães, nem queremos ser. Nós temos a maioria do Povo a ganhar menos de cem contos. Como ,é possível que as multas, hoje sejam quase todos perto do ordenado mínimo? O que querem fazer de nós? Revoltados?!.
Mas não desespero! Vou à luta. Continuo a trabalhar.
Até que o fisco não se lembre de me querer sacar a única coisa que ainda consigo usar gratuitamente. Nessa altura só lhes poderei dizer: “Queres que eu trabalhe? Ora toma!!!”